Série Ausländer - Ser brasileiro na Alemanha
Sociedade

Série Ausländer - Ser brasileiro na Alemanha

Celso Celso Fernandes
18 de novembro de 2016

Imagem: Heloisa Nass on Unsplash

[Série Ausländer]

Série Ausländer

Assuntos relacionados à história de imigração na Alemanha e a nossa condição de suburbano-latino-americano na terra de seres superiores e iluminados.

Boa noite gente.

É hora de mais um post Ausländer e hoje eu vou falar de um pouco sobre como é ser brasileiro na Alemanha.  Mais uma vez eu queria muito poder escrever este post de forma mais generalizada para poder integrar mais meus amigos em Portugal e Angola, mas infelizmente eu não faço a mínima ideia de como é ser Português ou Angolano na Alemanha. Então pessoal de Portugal e Angola, mais uma vez peço paciência e me desculpem...estamos juntos! Bom, agora que eu já esclareci o que eu queria esclarecer, vamos nessa!

Ser brasileiro não está no top das nacionalidades que você pode ser na Alemanha, mas é muito melhor do que ser  muitas outras coisas. Por causa da nossa alegria, por sermos um povo pacífico e pelo Brasil ser visto como um paraíso tropical, os alemães acabam guardando um certo "carinho" pelo Brasileiro. Toda vez que eu sinto que o ar está meio pesado pro  meu lado por eu ser estrangeiro, eu logo trato de arrumar alguma forma de dizer de onde sou. Depois disso as barreiras quase logo somem e sinto que as pessoas passam a me tratar um pouco melhor. Se eu fosse bom de bola, então, acho que eu teria feito o triplo de amigos alemães que fiz. Basta um alemão descobrir que eu sou brasileiro que ele logo começa a falar de futebol e do último jogo do Bayer, bla bla bla. Eu fico ali apenas sorrindo e balançando a cabeça e torcendo para ele não pedir minha opinião a respeito de nada! Eu te conto uma estória em chinês mandarim, mas não consigo citar o nome de dois jogadores do flamengo.

Ser brasileiro na Alemanha começa a ficar um pouco complicado quando se é mulher ou na hora de conseguir credibilidade no trabalho. Eu vou falar um pouco mais sobre isso no próximo post, mas por hora fiquem sabendo que as mulheres brasileiras aqui tem uma reputação um pouco ruim e para ser respeitado no trabalho aqui é preciso chegar mostrando serviço, pois a gente não tem fama de ser um povo muito trabalhador.

Eu lembro que no meu primeiro trabalho na Alemanha, eu me esforçava de verdade para chegar pontualmente lá na hora combinada. Sempre fiz isso e nunca fui elogiado por ser pontual, mas bastou eu chegar 15 minutos atrasado a primeira vez para logo ser vítima de brincadeirinhas do tipo: Veio com o seu relógio brasileiro hoje? Chegou 15 minutos atrasado! De fato os alemães são muito ligados a estereótipos. A visão que eles tem das pessoas, é aquela imagem que primeiro lhes vem a cabeça.  Se você está acompanhando os meus posts, então já sabe que as vezes eu sou um pouco inconveniente, né? Pois é... acontece que eu não bebo café e uma vez um alemão veio me encher o saco  peguntando o motivo pelo qual eu não bebia café. Ele emendou frisando o fato que eu também não jogava futebol e era um desastre na salsa! Ahhh não quando ele falou SALSA eu não aguentei. Só me restou abrir as comportas do arsenal e bomba nele:

- Amigo, não seja tão ligado a estereótipos. Se fosse assim, então, você teria que estar usando um capzinho adornado com caveira e um terno preto com a insignia do SS.

Nossa...depois que eu soltei essa, o camarada ficou tão triste que a minha alma até doeu de pena. Depois de bater, pensei até em soprar um pouco..mas que saber? Soprar nada! Deixa ardeeeeer.

Outra situação chata aconteceu há alguns meses no trabalho. Eu trabalho com uma Italiana e um Americano.  Um certo dia, não lembro exatamente por qual motivo, o americano começou a dizer que os homens nos EUA e na Alemanha não eram tão machistas como os Italianos. Pra completar o showzinho, ele ainda levantou da cadeira e dirigiu-se até a parede apontando para um mapa Mundi. Daí ele continuou dizendo:

- Nós não somos tão machistas como os homens daqui (começou a apontar para Espanha e Itália).

A pobre da Italiana ficou ali tentando negar e defender os homens Italianos, daí ele olhou pra minha cara com um sorrisinho maroto e continuou:

- E nem somos tão broncos como os homens daqui (começou a apontar para o Brasil).

Bronco?? Ahh não! Bomba nele:

- Colega... nós somos um povo latino, temente a Deus. No meu país, a pior piada que você pode fazer é falar da mãe do outro. Quando uma senhora entra no ônibus, nós cedemos o lugar. Se eu tenho dinheiro no banco, PARCEIRO, eu contrato uma empregada. Minha mulher não faz serviço doméstico não. Quando o meu filho ou filha nascer, ela ou ele terá o nome da minha esposa e o meu também. Assim como eu carrego o sobrenome de meu pai e da minha mãe! Nos EUA e na Alemanha, vocês largam a mãe de vocês no lar de idosos, preferem que a mulher seja dona de casa, pois empregada é coisa de milionário e aposto que o filho de vocês nem sabe qual é o sobrenome de solteira da mãe! E você vem dizer que eu sou bronco???
 

O cara ficou meio sem jeito, disse que era piada, desconversou..enfim...sacudi o barraco dele legal. Aliás...houve um tempo em que eu ouvia certas coisas e ficava quieto, engolia calado e evitava conflito de qualquer maneira. Hoje, já bem mais adaptado aqui  eu prefiro não deixar barato. PARCEIRO!

Apesar de eu me irritar profundamente com certos comentários, eu até entendo a origem de tanta ignorância. A verdade é que em mais de 5 anos de Alemanha, eu nunca vi nada positivo sobre o Brasil na televisão. Toda vez que vejo qualquer documentário ou notícia, os protagonistas sempre são os mesmos: um monte de criancinha barriguda correndo descalça nas favelas ou prostitutas na praia e assim por diante. Acho que o que estou tentando dizer é que eu nunca me enxerguei na TV aqui na Alemanha. Nunca vi nada que exibisse uma família brasileira semelhante a minha família ou a família de todo mundo que eu conheço. De fato, nós estamos muito mal representados...

Como se isso não fosse o suficiente, existe um grupo crescente de pessoas provenientes de uma certa região brasileira (cujo nome não irei citar), que insistem em colaborar para estes estereótipos. Eles e elas chegam aqui falando alto, botando pra quebrar, usando decotes indecentes, indo pegar sol de fio dental, falando um monte de besteira e por aí vai. Por mim seria tudo bem, se não fosse pelo fato de estas pessoas fazerem tudo isso usando as cores ou a bandeira do Brasil. É impressionante! Há uns dois anos atrás, Braunschweig inaugurou a sua primeira loja de produtos brasileiros. A localização é até prestigiada e a loja também representa bem o Brasil. O problema foi a inauguração. A loja foi anunciada no meio de uma das calçadas mais movimentadas da cidade ao som de axé Music. Para completar o cronograma, dois caboclos e duas mulatas semi-nus. O pouco de roupa que eles usavam exibia as cores do Brasil...

Querido amigo brasileiro e querida amiga brasileira na Alemanha, em Portugal, na Espanha ou qualquer outro diabo de país... Me desculpe se você se encaixa na descrição que acabei de narrar. Não tenho absolutamente nada contra você. Te pago uma cerveja a hora que você quiser.  Mas por favor lembrem-se que ao deixar o Brasil, vocês foram promovidos a embaixadores e embaixadoras do nosso país. Tentem de verdade representar todos nós, na melhor de sua sabedoria. A receita é simples:

  1.  Vista o dobro de roupa que normalmente usa.
  2.  Fale apenas 1/5 do tempo que geralmente falas.
  3. Nunca! Mas nunca.. use verde e amarelo a não ser que estejas indo para uma partida de futebol.

Eu e muitos outros brasileiros que estão aqui trabalhando duro pra mudar os rumos da opinião mundial sobre o Brasil agradecemos a sua colaboration. Ahhh...nossas mães e nossas irmãs também agradecem!

 
Estou leve. Vou dormir gostoso.
 
Fim!
Série Ausländer - Boates na Alemanha
Série Ausländer - Estereótipos no Trabalho
Celso Fernandes
Celso Fernandes
Autor
Engenheiro, empreendedor e programador de fim de semana.  Natural de Petrópolis, RJ. Trinta e poucos anos de idade e há dez anos vivendo na Alemanha. Escreveu o primeiro post no Batatolandia em 2008 e desde então não parou mais.

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