Série Ausländer - Estereótipos no Trabalho
Sociedade

Série Ausländer - Estereótipos no Trabalho

Celso Celso Fernandes
18 de novembro de 2016

[Série Ausländer]

Série Ausländer

Assuntos relacionados à história de imigração na Alemanha e a nossa condição de suburbano-latino-americano na terra de seres superiores e iluminados.

Com vocês, o oitavo dos dez posts da Série. Finalmente!

O post de hoje, tem haver com trabalho na Alemanha. Eu chamei o post de Estereótipos no trabalho por falta de um nome melhor, mas pra falar a verdade não sei muito se "estereótipo" é exatamente o termo que estou procurando.

Trabalho é um assunto muito importante na Alemanha e os alemães dão um valor incrível para quem trabalha bem ou sabe trabalhar. Apesar de eu nunca ter ouvido um alemão afirmar isso diretamente, eu tenho bastante certeza que eles acreditam ser o povo mais eficiente do planeta e estão sempre dispostos a jogar uma crítica ou outra nos métodos de trabalho de outros povos. Aqui na Alemanha quando o assunto é trabalho, uma das piores coisas que você pode ser é um Südländer. Para saber se você faz parte deste grupo de supostos vagabundos, basta visualizar o mapa Mundi. Visualizou? Então agora trace uma linha imaginária que vai passando rente ao sul da Suíça e contornando o planeta. Agora localize a posição do seu país em relação a esta linha, Ok? Bom... se o seu país está localizado ao sul desta linha imaginária da competência, então sorria...você é um Südländer!

Os Südländers costumam desfrutar de uma péssima reputação no que diz respeito a eficiência e qualidade do trabalho. Os alemães acreditam que nós somos de uma forma geral preguiçosos, espertos e pouco comprometidos com a qualidade daquilo que produzimos, pois na cabeça deles, todos nós sofremos de uma limitação chamada de südländische Mentalität ou mentalidade de sulista.

Depois de 5 anos trabalhando com alemães, eu posso dizer que o sistema deles de trabalho é realmente eficiente, mas não necessariamente porque eles gostam de trabalhar. De fato o que realmente difere o trabalho deles do nosso, é o rendimento da hora de trabalho. Na maioria dos países sulistas, os empregados tem a necessidade e obrigação de socializar durante o trabalho. No fim do dia, a soma de todos aqueles pulinhos até a máquina de café ou aqueles 5 minutinhos para repassar as correntes de fé via email fazem sim uma imensa diferença no rendimento do mês.

Uma outra coisa que os alemães odeiam é atraso e pontualidade não é lá uma característica muito forte do Südländer, né gente? Eu lembro que no meu primeiro trabalho aqui na Alemanha, eu fazia um esforço fenomenal para chegar lá pelo menos uns cinco minutos antes de todo mundo. Apesar de eu nunca ter sido elogiado por ser pontual, bastou eu chegar lá atrasado 10 minutos um dia para começarem as piadas: ohh...veio com o seu relógio brasileiro hoje?

 Tirando todo este nhê nhê nhê de lado, ter fama de vagabundo tem lá as suas vantagens. É muito bom ser trabalhador e ter fama de vagabundo. O motivo pelo qual eu estou falando isso, é porque se as pessoas já começam acreditando que você é incapaz, então você tem tudo pra surpreendê-las de uma forma positiva, já que elas não esperam nada de você. E são estas as oportunidades que eu uso pra dar um RÁÁ... Pegadinha do Malandro neles!  No momento, eu trabalho para uma grande multinacional alemã na área de automobilismo. Lembro que no fim do meu primeiro mês de trabalho tive que apresentar resultados para o chefe do departamento junto com outros iniciantes. A alemoada toda preparou Powerpoint, botou gravata, todo mundo com o mesmo corte de cabelo e vestidos para o exame de fezes. Eu me apresentei como sempre me apresentara e por força do destino fui o último a apresentar. Lembro que ficou aquele climão no ar, pois eu não havia preparado absolutamente nada, mas garantia o meu trabalho. No fim das contas, minha apresentação foi tão descolada e acabou colando super bem com o chefe. Pra falar a verdade eu acho que nunca fui tão elogiado na vida quanto naquele dia. O pior de tudo é que eu não fiz nada além do meu trabalho! Nem Powerpoint eu apresentei. Apenas fui lá na frente e citei os fatos de forma clara e interessante. Se tivesse que dar uma nota para mim mesmo, teria dado um 7 ou 6,5, mas eles ficaram tão surpreendidos que eu cheguei a conclusão que tava todo mundo esperando um desastre!  RÁÁ!

A verdade é que o Alemão é extremamente ligado a estereótipos e precisa sempre classificar as pessoas em algumas das categorias existentes na mente deles. Uma vez que você foge a regra e deixa de se encaixar naquilo que eles esperam de você, danou-se! Eles perdem referencial a mente deles travam!

Apesar de toda esta eficiência e apesar deles insistirem tanto que são mais eficientes que a gente, eles são na verdade é muito mimados devido ao fato deles desfrutarem de um bem-estar maior do que muitos países do sul. Uma vez no trabalho, um colega  ficou 4 dias ausente. Todos ficaram um pouco preocupados e o chefe resolveu ligar pra ele para saber qual o motivo da ausência. Após desligar o telefone o chefe disse:

- Tá tudo claro! Ele está em casa cuidando do gatinho que ficou doente.Amanhã deve estar de volta.

 
 Ahhh que lindo! Cuidando do gatinho que tá dodói! Não sei como é aí em Portugal ou em Angola, mas no Brasil meu chefe também teria achado lindinho. Tão lindo que ele teria me dado o resto da vida de folga pra ficar em casa cuidando do gato! A moleza não para por aí. Vai além e muito além... certos departamentos de grandes empresas como VW, por exemplo, trabalham apenas 28 horas por semana. Ou seja, de segunda a quinta apenas. Maravilha. ;-)

Este foi o oitavo post da série. Estou trabalhando ferozmente para trazer o nono post até o fim do ano, mas estou dependendo da ajuda de uns amigos e o tempo está escapando entre os dedos. Eu vou mantendo vocês informados! Mais uma vez muito obrigado a todos por estarem comentando aqui! Vocês são 10! O próximo post será mais um Made in Germany.

Série Ausländer - Ser brasileiro na Alemanha
Made in Germany - Invenções Alemãs - Parte 3
Celso Fernandes
Celso Fernandes
Autor
Engenheiro, empreendedor e programador de fim de semana.  Natural de Petrópolis, RJ. Trinta e poucos anos de idade e há dez anos vivendo na Alemanha. Escreveu o primeiro post no Batatolandia em 2008 e desde então não parou mais.

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