Quando a língua alemã e a arte andam de mãos dadas: observações sobre a Alexanderplatz
Sociedade

Quando a língua alemã e a arte andam de mãos dadas: observações sobre a Alexanderplatz

Marco Marco Ryan
9 de fevereiro de 2020

Imagem: Unsplash

Oferecimento: Berlinguas

O tempo passa, Berlim ganha a cada década uma nova forma, mas a Praça Alexandre, melhor dizendo, ALEXANDERPLATZ nunca perde seu protagonismo. Na época em que Berlim ainda era dividida, a Alexanderplatz era o centro da República Democrática Alemã (RDA) - da Berlim oriental e comunista - e concentrava ao seu redor muitos edifícios governamentais. O muro caiu, a praça “se abriu” para a modernização. Principalmente a partir do ano 2000, ela vem passando por transformações constantes, tornando-se cada vez mais num centro de consumo e cada vez menos um espaço para ser e estar.

Como parte do processo de modernização da praça, vários edifícios foram erguidos para abrigar principalmente lojas, atraindo cerca de 375.000 pessoas todos os dias. Contudo, uma parte da praça caiu no esquecimento: são os prédios governamentais da antiga RDA, que continuam fazendo parte da paisagem, colossais, porém completamente esquecidos, depredados, pichados. Um deles é a Casa das Estatísticas (espécie de IBGE da RDA), um complexo construído por volta de 1970 e que há praticamente 12 anos se encontra vazio, abandonado. Parece mesmo que deixar que um prédio como esse chegasse a este estado de conservação em plena Alexanderplatz, é como se quisessem evidenciar o triunfo do capitalismo sobre o comunismo. Mas não é bem assim.

O fato deste e de outros prédios não terem feito parte do processo de modernização da Alexanderplatz está ligado à burocracia alemã, à lei de proteção de prédios históricos e também à atual situação financeira da cidade de Berlim. Mesmo para o setor privado parece não ser um bom investimento, pois uma reforma de tais prédios sairia tão cara quanto a implosão e construção de novos no lugar. Por conta da recente inflação do mercado imobiliário berlinense, junto ao processo de gentrificação do qual a modernização da Alexanderplatz também faz parte, os políticos da cidade se encontram diante de um grande impasse: o que fazer com esses prédios? E em Berlim é assim: prédios abandonados não demoram muito para virar galerias de arte, clandestinas claro! Produzir arte clandestinamente não pode ser visto como uma manifestação de vandalismo, ao menos em Berlim. Muita gente vem pra Berlim, se apaixona pela cidade, mas não sabe exatamente por quê. É isso, é a arte, que faz brotar flores de asfaltos; que traz luz à escuridão, que traz ideias e soluções para impasses não resolvidos pela política e pelo capital.

O projeto artístico ALLESANDERSPLATZ, que aliás foi um trocadilho muito bem feito, tem exatamente o propósito de chamar a atenção de todos para a problemática - como forma de protesto - mas também abrir ESPAÇO para um novo recomeço. PLATZ em alemão significa “praça”, mas também “espaço”. ALLES ANDERS significa “tudo diferente”. ALLESANDERSPLATZ é uma resposta à nova ALEXANDERPLATZ, que outrora fora palco de grandes revoluções e transformações, ou seja, que já serviu como “espaço para tudo diferente”, no entanto que de 2000 pra cá vem se tornando mais um do mesmo.

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Marco Ryan
Marco Ryan
Autor
Marco Ryan é de São Paulo e vive em Berlim onde há 16 anos trabalha como professor de alemão para brasileiros e estrangeiros. Marco também é o fundador da escola de idiomas Berlinguas que oferece uma série de serviços para quem deseja aprender idiomas online.

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