Quando o seu filho não é convidado para o aniversário do amiguinho
Esse tema pode gerar um grande conflito intercultural, já que nós brasileiros estamos acostumados a grandes festas de aniversário infantis, onde todos os amiguinhos das crianças são convidados, bem como os pais das crianças, enquanto que na Alemanha as festas são bem mais modestas e os convites restritos.
Brasileiros são muito afetuosos e melindrados, gostamos de reunir pessoas, de confraternizar de modo exagerado e, se não somos convidados para uma festa de um amigo ou parente nos sentimos automaticamente rejeitados e magoados. Há muitas pessoas que vão tomar satisfação com o dono da festa perguntando o motivo do não convite ou, não estando a situação esclarecida, ficam “de mal” com o anfitrião.
Já na Alemanha esse tipo de situação não existe. O anfitrião faz jus do seu direito de convidar quem ele bem entender sem ter que dar satisfação a ninguém e sem que a pessoa não convidada, seja parente ou amigo, fique melindrado, magoado ou de mal. Aqui eles não levam a situação para o lado pessoal. Se você não foi convidado, não quer dizer que o anfitrião não lhe tenha mais carinho, ele simplesmente pensou em festejar a ocasião com outras pessoas.
Entender essa atitude não é uma tarefa fácil, exige muito pragmatismo, adaptação ao novo ambiente e às regras sociais. E ela acontece em todos os níveis de amizade e parentesco.
Nos aniversários infantis alemães, convidar poucas crianças é normal. As festas infantis aqui são muito modestas e tem muitas famílias que praticam a regra: o aniversariante pode convidar o número de amigos para a festa conforme a idade que a criança está completando. Por exemplo, se a criança vai completar 7 anos, então pode convidar 7 amigos. Os pais e irmãos dos convidados, geralmente, não são chamados, mesmo que as famílias se conheçam bem.
A primeira vez que eu passei por essa situação de o meu filho não ter sido convidado para a festinha de um amiguinho do jardim de infância doeu muito. Ele tinha três anos e, o grupo de coleguinhas com os quais brincava diariamente eram de cinco meninos.
Um belo dia fui buscá-lo na escolinha e ele estava num canto do pátio muito quieto e triste. Cheguei perto e ele veio correndo me abraçar com lágrimas nos olhos. Ajoelhei-me diante dele e perguntei o que tinha acontecido. Ele disse: “hoje é aniversário do Vinzent, e todos os meus amigos foram menos eu. “Aí quem ficou com lagrimas nos olhos fui eu. Vendo a minha tristeza e decepção ele disse: „não chora, mamãe, eu não estou mais triste". De partir o coração.
Eu me considero bem integrada na sociedade alemã, procuro entender o porquê das atitudes e isso de não ser convidada para uma festa eu achava que já tinha superado. Mas quando eu vi meu filho chorando por esse motivo, tive um sentimento de revolta, de tristeza, de incompreensão. Minha vontade era ligar para a mãe do guri, de falar com a direção do jardim de infância, de esbravejar contra o mundo essa raiva por fazer meu filho sofrer. Para completar, no dia seguinte, quando o fui levar na escolinha, o primeiro amigo que ele encontrou disse logo de cara: “eu fui na festa do Vinzent, você não”. Vontade de bater no moleque. Criança é muito cruel.
Entretanto, como construí minha vida familiar na Alemanha e não tenho a pretensão de me mudar, nada me restou que trabalhar esse tema internamente, acalmar meus conflitos interculturais, tentar aceitar a situação e não levar para o lado pessoal. Não é fácil, mas necessário para uma sobrevivência menos dramática em terras germânicas.
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