A verdade nua e crua sobre trabalhar na Alemanha
Carreira

A verdade nua e crua sobre trabalhar na Alemanha

Celso Celso Fernandes
21 de setembro de 2020

Imagem: LinkedIn

O banco internacional HSBC mantém um ranking dos melhores países do mundo para se trabalhar no exterior, e a Alemanha está entre os primeiros lugares entre os expatriados ambiciosos que buscam desenvolver suas carreiras. Com base em uma pesquisa com mais de 22.000 expats, a ambição de carreira foi classificada como o principal motivo pela qual as pessoas se estabeleceram no exterior. No ranking mais recente (2019), a Alemanha ficou na frente de países vizinhos como Suécia e Suíça pela primeira vez.

Se por um lado a Alemanha está dominando os rankings entre os ambiciosos, por outro está deixando muito a desejar nos quesitos sociais e de integração. Segundo o mesmo ranking, a Alemanha ocupa a vigésima quarta posição (muito atrás de países como Canadá, Vietnã, Índia, Brasil e Austrália) entre os países de fácil adaptação, abertura cultural e facilidade de fazer novos amigos.

Nesta matéria nós exploramos a verdade nua e crua de como (realmente) é trabalhar na Alemanha em 2020.  

Work-life balance

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Créditos: Jose Antonio Gallego Vazquez

Vamos ser otimistas e começar com o quesito onde a Alemanha está dando de “7 a 1” nos adversários: Work-Life Balance. De acordo com o HSBC, não só 65% dos entrevistados consideram o local de trabalho mais produtivo, como 70% dos trabalhadores estrangeiros afirmam que seu equilíbrio entre vida pessoal e profissional melhorou consideravelmente após se mudarem para a Alemanha.  Algumas empresas alemãs até mesmo proíbem os seus funcionários de ler e-mails no fim de semana (mais ou menos).  Todo este zelo, confere à Alemanha a segunda melhor cultura de trabalho do mundo, ficando atrás apenas da Suécia. O mercado de trabalho altamente regulamentado também significa que 73% dos trabalhadores estrangeiros afirmam ter melhor segurança no emprego após se mudarem para a Alemanha.

Confira entrevista sobre equidade de gênero e Work life Balance

Remuneração

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Créditos: Arie Wubben

Uma coisa é certa: você não vai ficar rico trabalhando na Alemanha. Segundo o ranking do HSBC, a Alemanha ficou em 13° lugar. Os salários aqui são relativamente baixos quando comparados com países como a Suíça e os EUA. Além do mais, praticamente metade do seu salário bruto será descontado em impostos. 

De acordo com a CNBC, o salário médio bruto de um desenvolvedor de software nos EUA é de $102.000 por ano (Fonte). Segundo o site Alphajump.de, o salário médio de um desenvolvedor de software na Alemanha não passa de $61.500 (ou 52.000 EUR ). Segundo o mesmo site, mesmo um profissional sênior não ganha mais de $108.000 (ou 92.000 EUR) brutos por ano na Alemanha. Numa comparação desleal e grotesca (porém muito interessante), um estagiário iniciante no Facebook nos EUA ganha $8.000 por mês ou $96.000 brutos por ano. 

Se por um lado os salários são mais baixos na Alemanha, o custo de vida parece ser muito mais justo. Segundo o site investopedia, o valor do aluguel médio em Nova Iorque, gira em cerca de $4.000 (Fonte). Comparando custo de vida entre Berlim e Nova Iorque, o custo de vida é cerca de 44% menor em Berlim do que na Big Apple (Fonte).  Já o aluguel, é 198% mais alto em Nova Iorque do que na capital alemã. Resumindo, com os $4000 (3.370 EUR) necessários para alugar um flat relativamente pequeno em Nova Iorque, é possível alugar uma cobertura em Berlim. 

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Perspectiva profissional

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Créditos: HSBC Bank

É indiscutível que o mercado de trabalho alemão é competitivo e exige que você dê o melhor de si (Não apenas pela competitividade, mas também por ser um Ausländer que terá que se provar digno todos os dias da sua vida por aqui). 

A mentalidade profissional alemã premia o profissionalismo em detrimento da intimidade entre colegas de trabalho. Basicamente isso significa que você será bem tratado(a) pelos seus colegas, porém não espere receber aquele convite para beber uma gelada pós-expediente. Outro fator que favorece a ascensão profissional é um método de trabalho inspirado na paixão pelo perfeccionismo com atenção para qualidade e segurança. Trabalhe aqui tempo suficiente e você também começará a ficar "cri cri" e aumentar a sua atenção para detalhes que antes passavam despercebidos pela sua mente distraída. No final, todos esses fatores contribuem para moldar um profissional mais eficiente e inteligente. 

Deixando a questão da mentalidade de lado, as empresas alemãs investem muito tempo e dinheiro para conhecer cada funcionário individualmente. Como empregado(a), você terá reuniões regularmente com seu superior para discutir o seu desempenho e as suas aspirações de carreira. 

Não é a toa que a Alemanha figurou entre os primeiros lugares neste quesito. Segundo o ranking HSBC, a Alemanha ficou em 6° lugar em termos de aspirações profissionais e qualidade de vida. Na frente dos campeões tradicionais como a Suécia.

Hospitalidade e facilidade de integração 

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Créditos: Christian Wiediger

Dificilmente a Alemanha recebe alguma avaliação negativa nos dias de hoje, porém isto não significa que a vida aqui seja um mar de rosas para estrangeiros. Por mais que nem todos queiram admitir, todo estrangeiro tem pelo menos uma estória de terror para contar. A verdade é que muitos alemães ainda não enxergam o seu país como um país de imigração e resistem ao contato com estrangeiros. Fazer amizade com alemães não é uma coisa fácil e vai exigir muito tempo e paciência da sua parte. Falando francamente agora, mesmo que você consiga estabelecer uma amizade firme com alemães, muitas vezes é difícil manter a amizade, pois em alguns casos você praticamente precisa deixar de ser você mesmo para se tornar uma pessoa agradável para alguém com uma mentalidade estritamente alemã.  É óbvio que para toda a regra existem muitas exceções. 

Indiscutivelmente, a chave da integração na Alemanha está em dominar o idioma. Saber falar alemão não necessariamente vai melhorar a sua vida social (provavelmente todos os alemães que você terá prazer em conhecer também falam inglês ou português), porém irá abrir muitas oportunidades profissionais e facilitar o seu dia-a-dia. 

Voltando ao assunto de profissão… não vai demorar muito para você perceber que o “alto clero” de toda empresa alemã ainda é “muito alemão”. Diferente dos EUA, por exemplo, dificilmente você verá um estrangeiro (principalmente um estrangeiro marrom) ocupando cargos de alta gerência. É realista dizer que, para estrangeiros, a Alemanha oferece possibilidades de aspirações profissionais até um certo patamar. Como estrangeiro, você poderá alcançar até cargos de Project Manager, por exemplo. Acima desse nível o ar começa a ficar muito rarefeito para nós Ausländer. Aqui também existem exceções às regras. 

Se a sua empresa faz muitos negócios com o Brasil, México ou qualquer outro país que os alemães preferem evitar, você poderá acabar sendo a escolha ideal para conduzir os negócios com esses países. Nesses casos, é possível quebrar certas barreiras e atingir patamares mais altos. Outro caso muito comum é o profissional que já ocupava nível executivo no seu país de origem e é recrutado por uma empresa alemã para ocupar o mesmo cargo aqui na Alemanha. 

Ver o Expat Explorer Survey

Conclusão 

A Alemanha não é um destino para todos. Quem preza por contato humano, dias ensolarados e mais descontração, estará melhor servido em países como Portugal, Espanha, EUA ou Austrália. Dependendo da área de atuação, trabalhar na Alemanha pode sim enriquecer currículos e certamente será um divisor de águas na forma em que todos nós estamos acostumado(a) a trabalhar. Apesar dos salários relativamente baixos, quando comparados com outros países ricos, é possível viver uma vida relativamente tranquila graças aos preços acessíveis de alimentos e dos bens de consumo. 

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Celso Fernandes
Celso Fernandes
Autor
Engenheiro, empreendedor e programador de fim de semana.  Natural de Petrópolis, RJ. Trinta e poucos anos de idade e há dez anos vivendo na Alemanha. Escreveu o primeiro post no Batatolandia em 2008 e desde então não parou mais.

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