Alles Gut! Na Alemanha com Giselle Bohn
Inspiração

Alles Gut! Na Alemanha com Giselle Bohn

Batatolandia Batatolandia Admin
13 de março de 2021

[Histórias e Trajetórias]

Histórias e Trajetórias

Coletânea de entrevistas com artistas, profissionais, empreendedores e outros figuras da nossa comunidade brasileira na Alemanha.

Giselle Bohn nasceu em São Paulo e há 7 anos vive na Alemanha. Ela é autora da série de livros "Alles Gut!", onde narra os seus primeiros 365 dias em solo germânico, e co-criadora do podcast Fora da Casinha

Nós tivemos o prazer de ler os quatro livros da série e a sorte de poder entrevistar a autora. Nesta matéria, Giselle nos conta como foi o processo de adaptação na Alemanha, o que ela mais sente falta da vida no Brasil e um pouco sobre como é ser autora, mãe e eterna aprendiz do jeito alemão de ser. 

Fale um pouco sobre você. De onde você é, o que fazia no Brasil e o que te trouxe para a Alemanha?

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Eu nasci em São Paulo, mas me mudei para Campinas ainda quando criança, então me considero campineira de coração. Vivi em Campinas a vida toda e em 2014 vim para a Alemanha com meu marido alemão. 

Ele já vivia no Brasil há 9 anos e se encontrava completamente adaptado à nossa cultura. Ele é apaixonado pelo Brasil, porém sempre desejou que as crianças aprendessem alemão e o custo da escola alemã em Campinas era caríssimo. 

Estava difícil manter as crianças numa escola alemã para que elas pudessem ter contato com o idioma do pai. Isso acabou nos levando a trocar o Brasil pela Alemanha. 

Como foi o seu processo de adaptação? Fale um pouco sobre como é conviver com os alemães.

O meu menino, por ser mais novo na época, não teve o mínimo problema com adaptação. Ele rapidamente aceitou a Alemanha como sua nova casa. Já para a minha menina, que veio com 6 anos, o processo foi bem mais complicado. Ela sofreu bastante quando viemos e sinceramente sofre até hoje: “Por que vocês fizeram isso comigo? Por que vocês me tiraram do Brasil?!”

A verdade é que as relações aqui são muito diferentes. Ela é uma criança muito sociável e no Brasil, quando chegava num playground, ela rapidamente fazia amizades e se enturmava com as outras crianças.  Essa abordagem aqui simplesmente não funciona. Eu mesma a presenciei ser rejeitada várias vezes por outras crianças aqui e ela não entendia porque as coisas não funcionavam como no Brasil.

Outra imensa barreira para a adaptação foi o fato dela chegar aqui na primeira série. Nós achávamos que isso seria uma coisa boa, pois ela iniciaria a escola aqui com todas as outras crianças. O problema é que todas as outras crianças já se conheciam do jardim de infância e já haviam formado seus círculos de amizade.  

Num todo, a coisa ficou melhor depois que ela foi para o fundamental II (Gymnasium), pois lá as crianças vêm de cidades distintas e acabam não formando círculos tão fechados como no ensino fundamental, onde só estudam as crianças do vilarejo onde vivemos. 

Comparando a vida na Alemanha com a vida que você tinha no Brasil, quais mudanças realmente valeram a pena e quais fazem você desejar estar de volta à vida antiga?

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O que eu mais sinto falta é a leveza nas relações. No Brasil, as pessoas conversam na fila do mercado, na fila do ônibus e fica aquele clima leve. É disso que nós mais sentimos falta. 

Quando você muda de país, começa tudo do zero. Você tem que aprender a falar um novo idioma, a se comportar, e fica pisando em ovos, pois não conhece os limites do lugar. Apesar do meu marido ser alemão e eu já ter visitado a Alemanha antes de me mudar para cá, eu ainda não tinha certeza de como me comportar e como tratar as outras pessoas: será que eu dou um abraço? Será que dou um aperto de mão? Enfim… essa incerteza no trato é uma coisa bem complicada.

Nós, brasileiros, somos criticados por sermos muito superficiais, porém essa leveza é o que faz falta aqui. Lá eu consigo “ler os códigos” e sei se posso abraçar ou não, sorrir ou não.  Lá isso tudo eu sei e aqui não.

Como disse, meu marido morou 9 anos no Brasil e acabou assimilando demais a nossa cultura. Quando viemos para a Alemanha, chamaram a atenção dele na empresa por ele dar abraços e tapinhas nas costas dos colegas de trabalho. Aparentemente as pessoas ficavam duras e não sabiam como reagir. 

Uma coisa muito boa da Alemanha é a sinceridade das pessoas. Já aconteceu conosco, no Brasil, de convidarmos cinquenta pessoas para uma festa, todas disseram que iriam, porém na hora apareceram cinco. Isso dificilmente aconteceria na Alemanha. Os alemães não te enrolam. Se ele não estiver a fim de ir, ele já te fala na hora. Para nós, isso pode parecer um comportamento frio, porém tem suas vantagens: você sabe exatamente o que esperar. 

Você escreveu os 4 livros da Série “Alles Gut!” e possui também outros livros publicados. Você já escrevia antes de vir para a Alemanha ou foi uma vontade que surgiu após chegar aqui?

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No Brasil eu trabalhava como professora de inglês e uma das coisas que me animou de largar tudo e vir morar na Alemanha foi a possibilidade de ter tempo para escrever. O problema é que após a minha chegada foram tantos os desafios com a nova rotina, com a casa, com os aprendizados, com as mancadas, que mal dava tempo de sentar e escrever. 

No início, eu fazia micro posts no Facebook ou anotações em papel. Com o tempo, eu percebi que possuía muito material e até cogitei fazer um blog. A minha ideia inicial era cobrir os meus primeiros mil dias na Alemanha, mas logo percebi que isso daria um livro imenso tipo “Guerra e Paz''. Repensei a ideia e resolvi reduzir para os primeiros 365 dias ou 1 ano apenas.   

Ainda assim, era muita coisa com mais de 100.000 palavras e decidi dividir tudo numa coleção de 4 livros diferentes, referenciando as estações do ano e as novidades que fomos descobrindo em cada uma delas.

Na verdade, eu nunca pensei em escrever um livro assim. O que eu gosto de escrever é completamente diferente de tudo isso. Meu estilo é bem mais dramático, porém esses livros estavam gritando: “Você tem que escrever a gente primeiro!” Eu resisti muito, pois queria ser uma “escritora de verdade” e não o tipo de autora que fica escrevendo sobre limpar a bunda do filho ou limpar vômito de criança no carro.

Também teve a questão da exposição. Eu sou uma pessoa muito reservada, não posto nem foto no Facebook e a ideia de abrir detalhes íntimos do meu dia a dia para um público maior me incomodou no início. No final, eu decidi escrever, pois tinha muitas coisas legais que precisavam ser compartilhadas.

Depois da série “Alles Gut'', eu finalmente publiquei a minha primeira novela, estou escrevendo um romance agora e estou organizando um livro de contos, e essas são as coisas que eu realmente queria escrever. Mas essa série escrevi com muito prazer também; foi muito terapêutico.

Os livros da série “Alles Gut!” foram pensados para qual público? Quando você estava escrevendo, tinha sempre um determinado tipo de leitor(a) em mente?

Eu escrevi os livros com três objetivos principais. O primeiro é chamar a atenção das pessoas para ouvirem o que as crianças têm a falar, pois realmente é um tesouro que passa despercebido. As crianças estão o tempo todo falando coisas incríveis e a gente ri na hora, comenta com o marido ou com a esposa, mas depois esquece. Mais tarde, a própria criança nunca mais vai se lembrar, e isso eu acho uma pena. A gente fica tão preocupada em filmar e tirar fotos, mas as palavras são um retrato do pensamento.

Meu segundo objetivo era escrever livros agradáveis e leves que apelassem justamente para as pessoas que não gostam de ler. Eu não foquei nos brasileiros que querem vir para a Alemanha e nem nos brasileiros que já moram na Alemanha. O meu alvo é quem não gosta de ler.

Finalmente, eu decidi publicar os livros porque acredito que toda história precisa ser contada. Não importa se ela é bobinha ou não. 

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Escrever é uma tarefa que requer inspiração, tempo e um certo grau de concentração. Como você conseguiu conciliar as suas tarefas diárias com o trabalho de escrever 4 livros? E tudo isso com duas crianças pequenas em casa.

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Então… foi por isso que levou cinco anos! O primeiro livro já estava praticamente pronto apenas com as minhas postagens no Facebook. O segundo também, pois narra a época que eu estava fazendo a carteira de motorista. Eu ia postando os problemas e as raivas que eu estava sentindo e por isso rendeu muita coisa. 

Para os livros 3 e 4 eu realmente tive que sentar  e analisar fotos e buscar na memória e escrever mais. Foi um processo bem mais lento e levou anos. Por sorte as crianças já estavam maiores e não davam tanto trabalho. Elas ficavam na escola a tarde toda antes do COVID e isso ajudou bastante, pois eu tinha mais tempo.

O mais engraçado é que eu publiquei esses livros justamente no ano passado no meio da pandemia quando todos estavam em quarentena em casa. Apesar de tudo, foi um ano extremamente produtivo.

Quais dicas você daria para pais brasileiros prestes a embarcarem de mala e cuia para a Alemanha? 

O conselho que eu daria é: não crie expectativas. Nem boas e nem ruins, viva um dia de cada vez. Acho que esse é o conselho mais importante. Muitas coisas aqui são maravilhosas mesmo. A questão da segurança é uma delas. Por mais que você imagine o quanto aqui é seguro, você acaba se surpreendendo positivamente quando chega. 

O principal é manter a mente aberta e não julgar demais. Eu tive uma fase em que adorava julgar os alemães e a Alemanha, mas passou. Em muitos momentos saí chorando de supermercados ou lojas aqui porque alguém foi impaciente comigo, mas depois entendi que certas coisas são culturais e nada pessoal contra mim.

Olhando para frente e sabendo o que você sabe hoje, você retornaria para o Brasil um dia? 

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Sim! Eu pretendo voltar para o Brasil no longo prazo. Infelizmente, devido à atual situação isto não é possível, mas no futuro gostaria de retornar e morar num lugar bem tranquilo, de preferência lá no nordeste. 

Eu agora me acostumei com outro ritmo de vida. Eu moro numa cidadezinha de 2800 habitantes onde só tem passarinho, você não ouve nem carro. Agora que me acostumei com essa tranquilidade, não consigo mais voltar pra cidade.

Não tenho absolutamente nada contra a Alemanha, mas quero morrer na minha terrinha. Quanto mais velha você vai ficando, mais necessidade você sente de uma certa leveza. Esta leveza eu não sinto aqui até hoje, eu sinto apenas lá, no Brasil.

Aliás, eu tenho ranço desse povo que vem para a Alemanha e fica falando mal do Brasil. Eu até excluo essas pessoas das minhas redes sociais. Atribuo seus comportamentos a um desejo de integração tão grande, que preferem bloquear todas as coisas boas do Brasil só para se sentirem mais alemãs. Só que isso nunca vai acontecer, você sempre será uma brasileira na Alemanha.  

Como é possível adquirir os livros da série? Eles estão disponíveis também no Brasil? 

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Os livros estão disponíveis em qualquer loja Amazon do mundo. Na Europa, é possível adquirir uma cópia do livro ou o eBook. No Brasil, atualmente, é possível apenas comprar o eBook, que eu pessoalmente prefiro, pois as fotos são coloridas e muito mais visíveis. No livro, as fotos são impressas em preto e branco e não aparecem muito nítidas para o leitor. 

Outra grande vantagem do livro digital é que você pode facilmente ler no computador, no tablet ou no celular. O aplicativo do Kindle é gratuito, fácil de instalar e oferece vários recursos, como aumento de fonte, compartilhamento de trechos do livro etc.  

Então para encontrar os livros da série, basta acessar o Amazon e buscar por “Alles Gut Bohn” e você os encontrará nas sugestões de busca. 

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Este site começou em uma manhã ensolarada, lá em 2008, com o intuito de compartilhar experiências com outras pessoas que talvez, estivessem passando pelo mesmo labirinto de adaptação, característico a tamanha mudança cultural.

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