O cavaleirismo na Alemanha
Sociedade

O cavaleirismo na Alemanha

Celso Celso Fernandes
5 de abril de 2013

Olá pessoal!

Espero que vocês tenham tido uma boa semana e que possam curtir demais o sabadão amanhã. Bom, hoje eu vou escrever um pouco sobre cavaleirismo. Prestem bem atenção, eu não estou me referindo a cavalherismo (com LH) e sim cavaleirismo mesmo. Ou será que devo dizer cavaleiridade? Hoje em dia você não pode mais chamar ninguém de nada terminando em "ismo", que logo aparecem milhares de pessoas te chamando de preconceituoso ou racista. Pois me chamem de preconceituoso se quiserem, mas eu vou continuar dizendo cavaleirismo mesmo!

Hoje na hora do almoço do trabalho eu presenciei uma bela cena de cavaleirismo alemão. Uma das engenheiras que trabalha com a gente está grávida e como ela é vegetariana, passou um tempo a mais na fila do buffet esperando por uma refeição para vegetarianos. Neste ponto, nós carnívoros acabamos levando a melhor e conseguimos chegar na última mesa livre a tempo de ocupar todos os lugares. Poucos minutos depois, a menina chegou com sua bandeija na mão e todos na mesa ficaram ali olhando pra cara dela como quem diz: Puxa! Que barra, hein? Você não tem lugar. Eu demorei alguns segundos para perceber a situação, mas assim que caiu a ficha, eu instintivamente me levantei, cedi o meu lugar e fui rodar a cantina atrás de uma cadeira livre para mim. Quando eu voltei a mesa, ficou todo mundo ali com aquela cara de vírgula como se tivessem acabado de ver um ET pousando no planeta Alemanha. Sem falar naquele famoso climão que ninguém diz nada por uns segundos, mas todo mundo sabe o que o outro deve estar pensando.

Esta não foi a primeira vez que eu presenciei o cavaleirismo aqui na Alemanha. Apesar deles viverem numa sociedade extremamente organizada e progressista, existem algumas coisas que eles poderiam aprender com os terceiro mundistas como nós. Ceder lugar em ônibus aqui na Alemanha é uma coisa raríssima que poucos homens parecem praticar. Não porque eles se recusem, mas simplesmente porque esta atitude parece nem passar pela cabeça deles. Outra coisa engraçada, é aquele momento de abordar um ônibus. Aqui vale a lei do "Eu". Independente de você ser mulher ou até mesmo ser homem e estar mais próximo da entrada, a lei que impera aqui é a lei do atropelamento. Uma vez que o motorista abre a porteira, a cavalaria não pensa duas vezes em avançar. Muitas vezes quando vou descer do ônibus junto com alguma mulher, eu sempre espero aqueles poucos segundos para deixá-la passar a frente, mas não tem jeito, elas sempre esperam o mesmo tempo esperando eu passar. Isto diz muito sobre o que elas esperam dos homens aqui. Algumas vezes a ficha delas até cai e eu ouço uma exclamação de "oh! Obrigada!"

Uma certa vez, chegando da Itália, eu peguei um ônibus super lotado no aeroporto. Já poucos instantes antes do ônibus partir, uma senhora que deveria ter uns 300 anos entrou e ficou ali expremida entre as pessoas. Eu logo levantei para ceder o meu lugar e foi realmente uma luta, para que a senhora aceitasse a minha oferta. A traseira inteira do ônibus ficou ali assistindo enquanto eu insistia e a velhinha apenas sorria e dizia: Não precisa, meu filho, não precisa. Precisa sim!

Mas então, o cavaleirismo parece ser uma tendência mundial. Eu sei que este blog fala de Alemanha, mas eu vou fazer uma exceção e estender o assunto do caveleirismo além das fronteiras germânicas, sobre o Oceano Atlântico, até o Brasil.

Mesmo que você não dependa de transporte público, já deve ter tido que, um dia, andar de ônibus. O motivo que eu vou voltar a falar de ônibus, é que este é o ambiente preferido dos cavaleiros. Uma viagem de busão é, de fato, o cenerário perfeito para o desenrolar desta estória. O engraçado do Brasil, é que os cavaleiros de lá costumam ser mais criativos. Diferente dos alemães, eles reconhecem que são cavaleiros (não sei se isso é bom ou ruim) e lançam mão de inúmeras técnicas para fazer valer os seu cavaleirismo. Aqui vão alguns exemplos básicos de cavaleirismo a brasileira:

1. O cavaleiro voyeur

Ahhh...o cavaleiro voyeur. Este é clássico! Ele adora sentar na janela para diminuir ainda mais a probabilidade de ter que ceder o lugar. Se um jovem senta do lado dele, então, maravilha! Aí mesmo que ele jamais vai precisar se levantar. Durante toda a viagem, o cavaleiro voyeur pratica o ato de ficar com a testa grudada na janela, cuidando da vida de todo mundo lá fora. Ele prefere ficar tão ocupado fiscalizando as ruas, que simplesmente não tem tempo de notar que tem uma senhora ou uma gestante ali em pé logo atrás do campo de visão dele. Que pena...

2. O cavaleiro adormecido

Este também é digno de destaque aqui no Batatolandia. Este cavaleiro ocupa geralmente o assento do corredor. Ele sempre cai no sono assim que um idoso ou uma gestante aparece no horizonte. Milagrosamente, ele sempre acorda do seu cochilo na hora certa de saltar do ônibus. Vocês sabem do que eu estou falando, não sabem? Sabem!

3. O cavaleiro bolas de ouro

 Ahh não! Não posso deixar de concluir este post sem falar do cavaleiro bolas de ouro. O cavaleiro bolas de ouro, pode ocupar qualquer assento (corredor ou janela). Ele pode também, a qualquer momento, assumir a tática do cavaleiro adormecido ou do cavaleiro voyeur. Geralmente, o bolas de ouro é mais audacioso e põe mesmo a sua cara a tapa. Ele age não apenas com gestantes ou idosos, mas com qualquer um que se atreva a sentar-se do seu lado. Sentar do lado do cavaleiro bola de ouro signfica ter que dividir o assento não apenas com o cavaleiro, mas também com as suas bolas. Ele faz sempre questão de abrir bem as pernas, ocupando metade do seu assento. Enquanto você fica ali tentando equilibrar metade da sua bunda na parte que te toca, o cavaleiro passa a viagem toda com as pernas bem arreganhadas fazendo espaço para as suas bolas. Ora, bolas merecedoras de tanto espaço e conforto, só podem ser de ouro. Ou não? Pois é, amigos. Eu agora vou trocar vocês pelo clima libertino de uma sexta-feira a noite pós expediente. Depois de uma semana bem trabalhada, não há nada melhor do que abrir aquela cerveja. E em falar em cerveja a minha hoje a noite é Duckstein. ;-) Um grande abraço e até breve.  

Alemanha - Qual é a diferença entre Chanceler e Presidente?
Terminei a universidade na Alemanha e agora?
Celso Fernandes
Celso Fernandes
Autor
Engenheiro, empreendedor e programador de fim de semana.  Natural de Petrópolis, RJ. Trinta e poucos anos de idade e há dez anos vivendo na Alemanha. Escreveu o primeiro post no Batatolandia em 2008 e desde então não parou mais.

Comentários