A toda-poderosa Hebamme, a parteira alemã
Pais & Filhos

A toda-poderosa Hebamme, a parteira alemã

Mariana Mariana Freitas
19 de novembro de 2016

Parte da minha família, quando eu falava que tinha consulta com a parteira, irritava-se de verdade. “Que parteira o quê! É médico!”, me diziam. Eu tinha que explicar que nao, nao é médico, é parteira mesmo. A Hebamme é a figura central no acompanhamento à gravidez e durante o parto aqui na Alemanha, muitas vezes mais importante que o médico, que só é chamado em caso de emergência. O nome vem de Hev(i)anna, do alto alemao padrao, que significa “a ancestral/avó que ampara o recém-nascido”.

No Brasil, a figura da parteira tradicional perdeu espaço para a medicina alopática e a esterilidade dos hospitais. Isso resultou no maior índice de cesáreas desnecessárias (a desnecesárea) no mundo, de acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS). A epidemia de intervenções desnecessárias durante o parto que tomou o Brasil não chegou na Alemanha graças à Hebamme e ao Entbindungspfleger (enfermeiro de parto, nome dado ao homem que exerce essa profissão).

Na verdade, no Brasil uma equivalente à Hebamme seria a Enfermeira Obstetra, função exercida principalmente como especialização do campo da Enfermagem. Só há uma escola em todo o país que ensine a obstetrícia em si, sem ligação com outras áreas da saúde, e ela fica em Sao Paulo. Já na Alemanha, as parteiras estão sempre sendo muito requisitadas porque toda grávida aqui é acompanhada por uma parteira, salvo as raras exceções em que o plano de saúde nao cubra seus custos. 

Por isso as mulheres aqui logo nos primeiros meses da gravidez já buscam uma Hebamme nas listas oferecidas pelas Associações de cada Estado. Muitas delas falam diversas línguas e é esperado que haja um período de adaptação em que a gestante pode trocar de parteira sem medo de ser feliz. Uma relacao de confianca muito estreita é criada entre essa mulher e sua Hebamme, e como elas fazem visitas domiciliares também, acabam se tornando parte da família. Ao todo, seu trabalho consiste em acompanhar a mulher nao só no pré-natal e no parto, mas também nas primeiras semanas pós-parto e em caso de problemas com a amamentação. Algumas delas também realizam partos domiciliares.

A parteiras alemãs sao muito bem treinadas e precisam estudar dois anos em uma Hochschule (escola superior). Elas fazem estágios nos hospitais e casas de parto (falaremos sobre os tipos de parto na Alemanha em outro post) e sao acompanhadas de perto por suas supervisoras até que estejam completamente aptas a exercer a profissão. Esse treinamento todo lhes permite realizar todos os exames que os médicos realizam, exceto o ultrassom. Por nao poderem também receitar remédios, elas sao ricas fontes de dicas de todos os chás e terapias alternativas aos incômodos da gravidez. Contudo, sao também muito boas em exigir que a gestante vá a sua ginecologista quando necessário.

Na prática, a parteira e a médica trabalham lado a lado. Como de praxe sao feitas poucas visitas ao gineco durante toda a gravidez aqui, todas as outras consultas sao feitas pela Hebamme, seja a da escolha da mulher ou a parteira fixa de cada consultório. O seu médico sempre vai querer saber quem é a sua parteira checando o contato dela no seu Mutterpass e muitas vezes eles vão se comunicar caso seja necessário. Todavia, as consultas com um ou outro nao poderiam ser diferentes.

A consulta médica aqui nao difere muito da consulta padrão no Brasil: uma sala de espera cheia, um médico super atarefado que passa menos de 15 minutos com a gestante, faz um ultrassom rápido, preenche o Mutterpass e logo te passa para a secretária que vai tirar seu sangue e realizar os outros exames. Já a Hebamme leva tempo conversando com a mulher e é visível o cuidado e o interesse que ela tem com você. Ela pergunta tudo, desde informações técnicas até se você tem família na Alemanha, se você nasceu de cesárea ou parto normal, se você está dormindo bem e se sente-se feliz com a gravidez. De novo, ela acaba conhecendo muito bem sua paciente.

Esse cuidado todo é necessário porque provavelmente essa será a mulher que realizará seu parto. Fornecer-lhe todas as informações é importante e criar um laço de confiança é o segredo do sucesso para um bom parto. Os hospitais e clínicas também têm suas equipes de Hebamme que, caso a mulher se registre com antecedência, acompanharao o pré-natal e o parto. No entanto, caso a mulher queira que a sua parteira pessoal seja a que assistirá seu parto, ela precisa ver em que hospitais essa profissional está cadastrada e certificar-se de nomeá-la formalmente como sua Beleghebamme.

O sistema funciona tão bem que a Alemanha mantém-se como um dos países europeus com o menor número de cesáreas e de mortalidade infantil. Essas profissionais, ao contrário do que acontece no Brasil, nao sao desacreditadas por nao terem um diploma de Medicina ou Enfermagem. Sao respeitadas e queridas pelas gestantes da geração de alemães e imigrantes que mais está tendo filhos há quase 30 anos. Em grandes cidades como Berlim, quem nao procura sua Hebamme logo no começo da gestação pode acabar tendo pouca escolha caso algo dê errado.

Portanto, aqui vão alguns links úteis para quem está buscando uma parteira para chamar de sua:

Berliner Hebammen Verband (Federacao de Parteiras de Berlin):

http://www.berliner-hebammenverband.de/en/

Lista de parteiras em Berlin:

http://www.berliner-hebammenliste.de/suche

Bayerische Hebammen Verband (Federacao das Parteiras da Bavaria): http://www.bhlv.de/de/hebammensuche/

Me descobri grávida na Alemanha. E agora?
Descobrindo Berlim de Forma Simples
Mariana Freitas
Mariana Freitas
Autor

Comentários